"Colaboradoras excelentes, um número deveras excepcional. Muito bom gosto estético. Os meus sinceros parabéns!"

Eduardo Bettencourt Pinto (Poeta, escritor, fotógrafo) em email pessoal

 

"Ogygia nasce digital e, nesse gesto, afirma-se como projeto democrático. Ao recusar o peso da edição convencional, abre-se ao mundo, ultrapassando fronteiras físicas e tornando-se acessível a leitores nos Açores, em Portugal continental, no Brasil, nos Estados Unidos, em qualquer parte onde alguém queira escutar a língua portuguesa e a escrita de vozes lusófonas em tradução. É um espaço que democratiza a cultura, não no sentido de banalizar, mas de tornar acessível aquilo que tem valor: a literatura.

Diniz Borges (Professor, escritor, tradutor e promotor da cultura lusófona e açoriana nos EUA) em Atlântico Expresso, 6 de outubro de 2025

 

Ogygia: Revista Literária, um espaço de literatura no feminino

por Rui Leite Melo no Diário dos Açores, 10 de agosto 2025

 

A exposição e a divulgação da literatura criada nos Açores vai ganhar um novo e singular fôlego. Tem o título de Ogygia: Revista Literária, e
daqui a pouco mais de um mês estará ao acesso. É uma publicação digital que privilegia a escrita no feminino ao dar espaço à realização criativa das mulheres. Mas não é, tão só, uma publicação de pendor feminista. Se tanto, guiada por conquistas de paridades. Acima de tudo, um lugar de leitura materializado num plano que abraçou uma motivação de personalidade própria.

Uma das idealizadores de Ogygia é Avelina da Silveira, que melhor a explica: ”A ideia desta revista foi concebida porque um grupo de mulheres escritoras, amigas umas das outras, aperceberam-se de que, na altura, não existia em Portugal uma revista literária que desse voz exclusiva a mulheres da lusofonia. Existem revistas literárias e muitas editoras, mas não conhecemos nenhuma outra que explicitamente apoie mulheres escritoras. No início, houve quem defendesse a criação de uma plataforma que incluísse homens. Porém, as mulheres correriam o risco de serem (mais uma vez) engolidas por vozes hegemónicas do patriarcado. Assim, Paula de Sousa Lima e eu, decidimos avançar, com a ajuda de Vera Pires, que é uma excelente identificadora de padrões e facilmente encontra gralhas ou erros em textos”.

A nova revista literária caracteriza-se, acima de tudo, pela exigência de qualidade, combinando escrita de escritoras veteranas com novas vozes literárias de mérito. Além de Avelina da Silveira, da primeira edição constam textos de Irene Maria F. Blayer, Dora Gago, Vera Cymbron, Maria do Rosário Pedreira, Iva Matos e de Leonor Sampaio da Silva, bem como Paula de Sousa Lima, “a minha parceira neste empreendimento”, como refere a nossa interlocutora. Neste nº 1 de Ogygia junta-se, não com texto, mas com arte plástica, a pintora Nina Medeiros.

“Com certeza que a faceta mais evidente é o facto de ser uma revista de mulheres para o mundo. Somos escritoras açorianas que juntam as suas vozes à de mulheres da Lusofonia: investigadoras, poetas, cronistas, escritoras de ficção, tradutoras, guardiãs de livros e uma artista visual. São todas mulheres muito respeitadas nas suas áreas de produção e como pessoas criativas”, explica. Sobre o futuro do projecto, diz
Avelina da Silveira: “Considerando a prevalência de muito talento literário entre mulheres açorianas, queremos valorizar e divulgar essas
escritoras locais. Porém, ambicionamos ser uma revista digital de alcance internacional. Como tal, queremos receber contributos de todos os lugares onde alguém fala a língua portuguesa ou reflecte sobre a experiência da diáspora lusitana e açoriana”.

Pelo menos por enquanto, a revista materializa-se unicamente no formato digital, mais por ‘imposição’ que por opção. Com a chancela da recém-constituída Moonwater Editions, uma editora local, sedeada em Ponta Delgada, que assume responsabilidades editoriais pela publicação digital, Ogygia prevê ser uma revista semestral, “com publicação à volta dos equinócios de Outono e de primavera e que se mantenha uma revista digital porque não temos meios financeiros para a publicar em papel, nem a perícia necessária para a distribuição de uma revista impressa. Somos mulheres arrojadas, que decidiram implementar o sonho de sermos facilitadoras de outras escritoras para
que vozes em português alcancem a dimensão que merecem. Ogygia: Revista Literária é a resposta nestas situações. Publicamos
gratuitamente o trabalho de mulheres cuja escrita nos agrada, sem considerações de interesse comercial”, enaltece a mentora e também editora da nova publicação. Publicação digital e gratuita, sem considerações de interesse comercial, a edição em papel não é um propósito negado. Mas a acontecer, não será para já: “Até agora, não recebemos qualquer apoio financeiro que cubra as despesas. Mas também este é o
nosso primeiro número. Após a saída do primeiro número, em Setembro, tencionamos candidatar-nos a apoios da Câmara Municipal de Ponta Delgada e do Governo Regional, disponíveis para a cultura”, admite Avelina da Silveira.

O lançamento de Ogygia: Revista Literária terá lugar na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, às 18.30 do dia 18 de Setembro.

*jornal@diariodosacores.pt

Nina Medeiros, Artista